Não é de hoje que tenho me batido constantemente por mais investimentos nas áreas de Saúde e Educação, setores fundamentais para o desenvolvimento de um povo. E também questiono com frequência essa política de juros altos, em vigor, que não atinge somente a população, mas também o poder público, porque ele vai pagar sua dívida interna com os juros altos que estipulou para o mercado.
Sempre tive uma idéia do custo exorbitante desta política de juros altos. Hoje, lendo a “Folha on Line”, tive a confirmação de meus temores. Entre 2000 e 2007 o pagamento da dívida interna, somente no que se refere aos juros aplicados sobre o principal, pasmem, foi de R$ 1 trilhão e 267 bilhões!
E nestes sete anos, meus caros leitores, na Saúde foram aplicados R$ 310,9 bilhões. Na educação, somente R$ 149,9 bilhões e nos investimentos de uma forma geral, apenas R$ 93,8 bilhões. A soma destas aplicações do Estado em áreas tão sensíveis para a população, resulta em R$ 554,6 bilhões. Menos da metade do que se pagou de juros da dívida interna!
Um gasto perverso, um gasto que só serve para concentrar ainda mais a renda nas mãos de poucos especuladores, enquanto a população carece de uma educação mais eficiente e de um setor de saúde mais acessível e competente. É uma situação que tem que ser revertida, sob pena de nunca alcançarmos o desenvolvimento para o qual nosso país tem potencial e nosso povo almeja.
Os dados que cito neste blog fazem parte de uma pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) e quero aqui repassar aos meus leitores a declaração feita por um dos técnicos do Instituto à “Folha on line”, que considero irretocável: “Além de poder ser considerado um gasto improdutivo (o pagamento dos juros da dívida interna) , pois não gera emprego e tampouco contribui para ampliar o rendimento dos trabalhadores, termina fundamentalmente favorecendo a maior apropriação da renda nacional pelos detentores de renda da propriedade, os títulos financeiros”.
Abaixo repriso a matéria da Folha on Line na íntegra:
12/11/2008 - 10h00 Pagamento de juros é o dobro do gasto com educação, saúde e investimento da Folha Online O Brasil pagou em juros do endividamento público mais do que o dobro dos gastos com educação, saúde e investimentos somados entre 2000 e 2007, segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) divulgado nesta quarta-feira.
Segundo o levantamento, feito com base em dados do governo, os juros responderam pelo desembolso de R$ 1,267 trilhão de 2000 a 2007. No mesmo período, os gastos com saúde (R$ 310,9 bilhões), educação (R$ 149,9 bilhões) e investimentos (R$ 93,8 bilhões) somaram R$ 554,6 bilhões.
De acordo com o estudo, não apenas os desembolsos devem ser observados, mas também "a qualidade do gasto público". Os juros, por exemplo, responderam por 7% ao ano, em média, do total da renda nacional.
"Ademais de poder ser considerado um gasto improdutivo, pois não gera emprego e tampouco contribui para ampliar o rendimento dos trabalhadores, termina fundamentalmente favorecendo a maior apropriação da renda nacional pelos detentores de renda da propriedade (títulos financeiros)", afirma o Ipea.
Entre 2000 e 2007, os gastos da União com saúde, educação e investimentos corresponderam a 43,8% do total das despesas com juros.
Desigualdade
O estudo faz parte da pesquisa sobre as desigualdades no Brasil e a participação da renda do trabalho no capital nacional.
A conclusão do trabalho é que a desigualdade pessoal está em queda. No entanto, a chamada desigualdade funcional (que envolve a renda do trabalho) sofreu brutal recuo em sua participação na renda nacional entre 1996 e 2004. Desde então, vem subindo, mas apenas deve se igualar aos níveis de 1990 (45,4%) em 2011, se mantiver a curva de crescimento de 4% ao ano.
Na comparação entre os mais pobres e os mais ricos, no entanto, o estudo aponta uma queda na diferença. Com isso, houve redução de 10,1% no chamado índice de Gini (que mede o nível de concentração da renda, de 0 a 1), de 0,600 para 0,528, entre 1990 e 2007.
Segundo o Ipea, a redução no índice de Gini esteve condicionada tanto pela elevação dos rendimentos na base da pirâmide social brasileira como pela diminuição real nas remunerações dos ocupados nos principais postos de trabalho do país.
No período em referência, o rendimento médio mensal real dos 10% mais pobres cresceu 44,4% (de R$ 67, em 1990, para R$ 97, em 2007), enquanto os 20% mais pobres aumentou 16,5% (de R$ 202 para R$ 236, no mesmo período). Os valores foram atualizados para 2007.
Já em relação aos 10% dos ocupados melhor remunerados, o rendimento médio mensal real registrou perda de 9,8% (R$ 4.559 em 1990 para R$ 4.114 em 2007). Para o 1% dos ocupados com maior rendimento, a queda foi maior, de 12,7% (de R$ 13.604 para R$ 11.878), entre 1990 e 2007.
Senador Antonio Carlos Valadares