segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Morre Francisco Teles "Chico de Miguel"

Faleceu neste domingo, 23, por volta das 20h, o político sergipano Francisco Teles de Mendonça, mais conhecido como Chico de Miguel. Há quase quinze dias ele estava internado na UTI do Hospital São Lucas, em Aracaju. Ele estava com pneumonia e a causa de sua morte foi a falência múltipla dos órgãos. Seu corpo está sendo velado na casa de sua família em Itabaiana, onde já se aglomera uma multidão. O enterro será às 17h de hoje, 24, no cemitério Santo Antônio e Almas, na mesma cidade. Chico de Miguel, pai da atual prefeita de Itabaiana, Maria Mendonça, estava com 81 anos. Ele foi líder político na região, fazendo parte da extinta UDN. Chico de Miguel foi um líder tradicional da política de Itabaiana e exerceu mandatos, como deputado por varias legislaturas em Sergipe.

UM POUCO DA HISTÓRIA DE CHICO DE MIGUEL O também comerciante Francisco Teles de Mendonça era uma espécie de cabo eleitoral do udenista Euclides Paes Mendonça quando este foi assassinado, juntamente com o filho deputado estadual Antônio de Oliveira Mendonça, no governo de Seixas Dória. A rixa era com o pessedista Manuel Francisco Teles, com quem Euclides disputava o espaço político e comercial desde 1945. Numa tarde de agosto de 1963, durante uma manifestação na porta da prefeitura, ocupada por um aliado de Euclides, a força policial trocou tiros com a guarda municipal armada, resultado na morte de pai e filho.O duplo assassinato incomodou durante exatos quatro anos os udenistas de Itabaiana, agora já sob o comando de Chico de Miguel, que havia sido eleito deputado estadual em 1966, derrotando o próprio Manuel Teles. No dia 31 de agosto de 1967, o líder do PSD foi assassinado com um tiro à queima-roupa disparado por um pistoleiro paraibano conhecido como Antônio Letreiro. Manuel Teles foi enterrado numa sexta-feira de agosto, tal qual ocorrera com Euclides e seu filho.Acusado de ter sido o mandante do crime, Chico de Miguel teve o mandato de deputado cassado pelo AI-5, no início de 1969, e logo depois foi preso pelo Exército, que o entregou à Justiça comum. Levado a júri, depois de mais de três anos de cadeia, foi absolvido, sendo recebido com grande festa em Itabaiana. Mesmo na cadeia, foi influente o suficiente para eleger o prefeito de Itabaiana. Ele mesmo contou esse episódio numa entrevista ao extinto “Jornal de Sergipe”, em outubro de 1980:“Quando chegou na época das eleições eu apresentei oito nomes para ser candidatos a prefeito, então o governador (Lourival Baptista) e outros dirigentes não aceitaram nem um nome, porque pessoas vinculadas a mim não poderiam ser candidatas a prefeito. Então, faltando três dias para as eleições, chamei José Carlos Teixeira na penitenciária e disse: ‘Vá registrar um candidato lá do MDB’. E ele respondeu: ‘A gente sabe que não elege e coisa...’ ‘Não pergunte quem é, do MDB não pergunto quem é, quem você botar vou mandar o povo votar’. Ele foi, quando chegou aqui registrou um velho com 70 anos, quando ele chegou lá e disse pra quem tinha registrado, eu disse: ‘Virgem Nossa Senhora, esse velho não dá um bom dia a ninguém’. Era um homem de bem e foi o maior homem que eu já botei dentro da prefeitura, um adversário do MDB, mas foi o maior que eu já botei e me agradeceu. Ficou comigo, depois passou para a Arena e até o dia em que morreu, estava comigo. E hoje a família também está comigo, passou até para o PDS. Para você ver, que se eu fosse uma pessoa assim tão ruim, até a família não queria saber de mim, mas me uni com ele o tempo todo.”
Mas Chico de Miguel não era exatamente um exemplo de resignação. No final da campanha eleitoral de 1976, soube que um motorista de táxi, de vulgo “Pernambuco”, ligado ao grupo da Arena II (ele era então da Arena I), o havia xingado. Chico de Miguel se armou, procurou o taxista e o matou a tiros na praça da matriz, em plena luz do dia. Após eleger o filho Antônio prefeito, entregou-se à Justiça. Depois de mais algum tempo preso, foi novamente julgado e pela segunda vez absolvido. Vencendo uma eleição ou outra, para deputado ou prefeito, pessoalmente ou com os filhos José, Antônio ou Maria, além de um filho adotivo conhecido como João da Véia, Chico foi quase uma unanimidade durante muitos anos.
Chico será sempre essa lenda marcante em Sergipe, amado por uns, odiado por outros.