O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje que gostaria de entrar para a história como o presidente que emprestou "alguns reais" para o Fundo Monetário Internacional (FMI). "Você não acha chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI?", disse. "Eu passei parte da minha juventude carregando faixa contra o FMI no centro de São Paulo."
O Brasil já decidiu que vai colocar recursos no fundo, tornando-se credor pela primeira vez na história. Falta, agora, definir o montante e analisar os detalhes do mecanismo, para não reduzir o valor das reservas internacionais.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o valor da colocação brasileira pode ser anunciado nos próximos dias. O mecanismo escolhido é subscrever uma emissão de títulos do FMI, que devem entrar nas reservas. Ou seja, na prática, a operação pode aparecer como uma diversificação. Ao invés de títulos do governo norte-americano, por exemplo, uma parte das reservas será aplicada nos títulos do fundo. Dessa forma, os US$ 200 bilhões acumulados pelo País não seriam reduzidos. "Precisamos analisar os detalhes das regras, mas já tivemos uma sinalização positiva de Strauss-Kahn (diretor-gerente do FMI)", disse Mantega.
O governo brasileiro decidiu colocar recursos no fundo mesmo antes da revisão de cotas, recuando assim de sua posição anterior. Na reunião preparatória de ministros do G-20, há duas semanas, Mantega havia dito que novos recursos só seriam liberados se os países emergentes pudessem ter participação maior na instituição - o Brasil tem 1,7% e a China, 3%.
No entanto, hoje o ministro afirmou que "a revisão de cotas não é tarefa fácil" e que a questão será "marginalizada". "Com os novos instrumentos (do FMI), são outras regras que passam a valer", disse. O fundo criou recentemente uma linha flexível, sem as tradicionais exigências.
A China já anunciou que vai colocar US$ 40 bilhões, além dos US$ 10 bilhões do Canadá, US$ 100 bilhões do Japão, US$ 7,15 bilhões da Noruega e US$ 102 bilhões da União Europeia.
O reforço dos recursos das instituições financeiras internacionais foi o principal consenso obtido hoje pelos líderes do G-20, que se reuniram em Londres. O capital do FMI, que hoje dispõe de US$ 250 bilhões, passará a ter US$ 750 bilhões. O grupo também aprovou a emissão de US$ 250 bilhões em Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês) do fundo. Outros US$ 250 bilhões irão para o financiamento do comércio internacional e mais US$ 100 bilhões para bancos multilaterais de fomento. No total, US$ 1,1 trilhão será injetado para restaurar o crédito.
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