quinta-feira, 16 de abril de 2009

Estado entrega quase 3 mil cestas básicas em Poço Redondo e Porto da Folha

Usar sombrinhas no sertão é algo comum, mas não para se proteger da chuva. Lá, o objeto serve para se abrigar do sol escaldante, que faz a temperatura passar facilmente dos 30 graus centígrados. E foi sob um mar de sombrinhas que sergipanos de Poço Redondo, município localizado a quase 200 km do litoral aracajuano, aguardavam a sua vez de receber as cestas básicas distribuídas pelo Governo do Estado durante toda a última quarta-feira, 15.
A ação minimiza os efeitos da seca que atinge o território do Alto Sertão Sergipano. As equipes da Secretaria de Estado da Inclusão, Assistência e Desenvolvimento Social (Seides) entregaram 2.520 cestas básicas nos três postos de distribuição que foram montados. Na última quarta-feira, 8, outros 2.125 kits contendo 10 kg de alimentos já haviam sido entregues aos moradores de outras localidades do município, totalizando 4.645 cestas para quem vive na sede e, principalmente, nos povoados de Poço Redondo.
Neste segundo dia de trabalho, as cestas também começaram a ser distribuídas entre os sergipanos de Porto da Folha. O Governo ocupou a sede da Associação das Mulheres Rurais do Povoado Lagoa Redonda e fez a entrega de 305 kits de alimentos. Outras 1.405 cestas de mantimentos serão entregues nestas quinta e sexta-feira, 16 e 17, nos povoados e na sede do município.
“Nós temos sido bem recebidos e podemos ver a necessidade das famílias que foram cadastradas pelas prefeituras. A nossa equipe vem apenas para fazer a entrega e tudo está ocorrendo de forma tranqüila”, analisa Inácia Brito, diretora de Assistência Social da Seides.
Sistemática
Poço Redondo foi o primeiro município a receber cestas básicas porque também decretou situação de emergência antes que as demais cidades do território. A partir de então, a Secretaria de Ação Social de Poço Redondo ficou responsável pelo cadastramento de todas as famílias que receberiam os mantimentos. Para retirar os alimentos, basta que o membro previamente cadastrado leve a carteira de identidade, o Cadastro de Pessoa Física (CPF) e comprovante de residência.
Esta sistemática de trabalho também está sendo adotada em Porto da Folha e nos demais municípios que ainda vão receber a ajuda. Também serão distribuídas cestas básicas entre famílias de Gararu, Nossa Senhora da Glória, Monte Alegre de Sergipe, Canindé do São Francisco e Nossa Senhora de Lourdes. Os alimentos são provenientes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), adquiridos pelo Governo Federal, e serão entregues pela Defesa Civil.
“Os alimentos estão chegando aos poucos e a previsão é entregá-los a partir da demanda apresentada pelas prefeituras municipais do Alto Sertão”, explica Inácia Brito, da Seides. O Governo Federal liberou a distribuição de 20 mil cestas básicas em Sergipe. Os 4.645 kits de mantimentos entregues de imediato em Poço Redondo foram da própria Seides, através do Departamento de Segurança Alimentar, por conta da situação emergencial do município.
Beneficiados
Em Porto da Folha, o senhor José Rosendo da Silva, de 51 anos, foi um dos que receberam a cesta básica. Trabalhador rural, ele não tem conseguido muito serviço ultimamente, por conta da seca. Como o dinheiro é pouco, o único jeito é ir até a ‘feirinha’ para comprar alimentos de uma maneira ainda habitual nas cidades do interior: fiado. “Muitas vezes não tenho nada para comer em casa e conseguir serviços está muito difícil. Esta cesta vai me ajudar muito”, contou.
A situação da dona de casa Angelita Conceição também é complicada. Mãe de 13 filhos, dos quais dois ainda moram com ela, a aposentada sobrevive com a pensão deixada pelo marido falecido. “Tenho até uma rocinha de palma, mas nem trabalho muito porque não chove há bastante tempo. Agora que começou a cair um chuvisco”, alegra-se, na esperança de dias melhores. “Graças a Deus eu recebi esta comida, que vai me ajudar muito”, finalizou dona Angelita, do povoado Vaca Serrada.
Além de receber uma cesta de alimentos distribuída gratuitamente pelo Governo, a dona de casa Maurina Matos também está sendo beneficiada com outra iniciativa da administração estadual. “A situação da seca lá onde moro não está tão complicada porque o Governo está enchendo as cisternas das casas”, contou dona Maurina, de 67 anos, que ainda é a principal provedora da casa em que vive com quatro filhos.
O sargento Gilson Silva, 50, estava responsável pela distribuição das cestas básicas mediante a entrega de um cartão, que era dado ao membro da família cadastrada pela prefeitura. Com orgulho, o policial militar atendeu as pessoas com um sorriso no rosto. “Esta ação é muito importante, porque, se não resolve o problema da seca, pelo menos deixa as pessoas mais felizes. Nós, da capital, vivemos em abundância, e temos que ajudar as pessoas necessidades do interior”, avalia o sargento, que mora em Aracaju.
Assentados
Os trabalhadores rurais previamente cadastrados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) também estão recebendo as cestas básicas. É o caso de dona Maria Amaro dos Santos, que se deslocou do assentamento Lagoa das Areias até a sede do município de Poço Redondo para garantir os mantimentos para a casa, onde vivem, além dela, o marido, cinco filhos e uma nora.
Segundo ela, a pequena roça de palma não agüentou o calor do verão, que parece ainda não ter acabado por aquelas bandas. “Ontem foi que melhorou, porque choveu um pouquinho”, contou. Nesses últimos meses, as refeições da família de dona Maria Amaro têm sido apenas feijão e farinha. “Pobre só tem isso para comer. Agora essa comida vai ser um alívio”, contou.
O casal de assentados José Ferreira e Regina dos Santos tem passado por muitas dificuldades, principalmente porque conseguir trabalho na roça durante o período de estiagem é complicado. “Com a seca, não tem o que fazer. Daí a gente come feijão umas duas vezes na semana, e nos outros dias é arroz com farinha. Esta cesta vai ajudar e muito. Para mim, foi como uma benção e vamos economizar para ver se dura uns oito dias”, revelou Regina, carregando a cesta de mantimentos enquanto o marido levava o filho José Eduardo no colo.
Bolsa Família
Se não fosse o ‘Bolsa Família’, programa de transferência de renda direta do Governo Federal, a situação seria bem pior para os cidadãos que vivem nos municípios atendidos pela seca. Pelo menos é o que afirma a dona de casa Maria Solange, de 36 anos, que recebe R$ 82 por mês do Governo.
“A renda mensal mais certa lá em casa é o ‘Bolsa Família’, porque meu marido está há sete meses sem trabalhar por conta de um acidente de moto. Meu pai aposentado também ajuda, e assim a gente vai vivendo. Esta comida será muito importante e eu vou controlar aos pouquinhos para durar pelo máximo de tempo possível”, pontuou dona Solange, que tem uma filha de 10 anos.
A dona de casa Sofia Silvestre, de 44 anos, vive situação semelhante. “Meu marido trabalha na roça, isso quando tem roça, né? Lá em casa o feijão e a farinha acabaram. Quer dizer, tem agora, porque o Governo trouxe”, disse ela, que também é beneficiária do ‘Bolsa Família’ e torce pelo fim da estiagem no sertão. “Vamos ver se daqui para frente tudo melhora. O Governo está ajudando bem muito, mesmo”, exclamou.
Plano Sertanejo
O Governo está desenvolvendo uma série de ações para amenizar os problemas causados pela seca. Lançado no final de março pelo governador Marcelo Déda, o Plano Sertanejo envolve a criação de uma linha de crédito especial do Banese, para que agricultores da região poderão acessar recursos de até R$ 20 mil para adoção de medidas emergenciais em suas propriedades. A partir de um investimento de R$ 4,5 milhões, também foi autorizada a contratação de 95 mil horas de trabalho de tratores para que os pequenos agricultores possam preparar suas terras a tempo de aproveitar com maior eficiência a incidência das primeiras chuvas do outono.
Outro feito do Governo de Sergipe refere-se à liberação do pagamento do seguro-safra, que estava bloqueado devido a problemas burocráticos, prejudicando 2.876 famílias sergipanas em diversos municípios. A medida que irá liberar R$ 550 do seguro por família só foi efetivada graças à atuação do governador junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário.