segunda-feira, 15 de março de 2010

Ex-superintendente da Polícia diz que não é mais aliado de Déda, que é igual aos outros

Marcelo Déda e as Fadas Sininho: patrulhamento ideológico em Sergipe

É curioso como a fértil imaginação de alguns pode conferir a outros atributos decerto inexistentes. Assim é o caso do sujeito que, tido como rico por alguns dos seus amigos, mal consegue pagar as contas do mês; ou do pobre marido que, acusado de infidelidade pela mulher ciumenta, não consegue arrancar suspiros sequer das solteironas loucas por um affair.

Comigo deu-se algo semelhante. Perdidos em devaneios, alguns ilustres amigos passaram a ver em mim um conspirador. Mas não um conspirador qualquer. Aos olhos argutos e percucientes desses meus delirantes observadores empoleirados em seus editoriais, integro agora uma tropa rebelde cujo propósito manifesto é desestabilizar o governo Marcelo Déda. Minha função? Ora, sabotar o governo por meio da criação e divulgação de boatos e factóides. Credo em cruz!

Esse maniqueísmo bocó levado a efeito pelos tais amigos é uma das maiores estultices com a qual jamais me deparei em toda minha vida. Mais: trata-se de evidente patrulhamento ideológico do tipo que só se encontra em Cuba, Venezuela e Coreia do Norte - três ditaduras de esquerda que decerto não assistirão ao alvorecer da próxima década. Felizmente!

É notório que já fui aliado do governador Marcelo Déda. Aliado de última grandeza, é evidente, mas ainda assim um aliado. Ocorre que não sou mais. E esse é um direito meu: inalienável, irrenunciável e intransferível. Por outro lado, não me converti em adversário e muito menos em inimigo do atual governador, por quem tenho muito respeito e a quem tenho na conta de uma das maiores lideranças políticas não só de Sergipe como do País, com atributos de sobra para futuramente candidatar-se ao governo federal e, quiçá, ganhar a eleição para presidente da República. Alguém duvida?

Deixei o projeto capitaneado por Déda há algum tempo e desde então venho refletindo sobre a minha vida e a realidade que me circunda. Nessa minha caminhada, cheguei à conclusão de que era muito mais prudente desfiliar-me do Partido dos Trabalhadores (como de fato o fiz) e, assim, ficar à vontade para dedicar-me a outros projetos, dentre os quais escrever de forma livre e desimpedida, sem peias ideológicas ou condicionamentos sufocantes.

Ocorre que isso não é tarefa nem tão simples nem tão prazerosa, embora sempre edificante. No entanto, para minha surpresa, percebi que basta um comentário mais crítico ao governo e lá vem a patrulha ideológica para dizer o que é joio e o que é trigo, separar os bons dos maus, identificar quem é Peter Pan e quem é Capitão Gancho nesse palco onde todos nós representamos um pouquinho. A depender dessas Fadas Sininho da imprensa bolchevique, a liberdade de expressão e a livre manifestação do pensamento consagradas na Constituição Federal de 1988 continuarão no plano do dever-ser.

Esses marxistas tupiniquins têm que entender de uma vez por todas que não é proibido nem sacrílego apontar falhas, equívocos e contradições no atual governo, como se Marcelo Déda fosse a personificação do Bem Absoluto e João Alves Filho e companhia fossem a encarnação do Mal sobre a Terra. É lamentável que em pleno século XXI ainda tenhamos que travar esse tipo de debate. Ou será que o debate extemporâneo não teria por objetivo encobrir questões muito mais graves?

Simplificando as coisas, não vejo diferença alguma entre Marcelo Déda, João Alves Filho, Albano Franco, Eduardo Amorim, Almeida Lima, Antônio Carlos Valadares, Jackson Barreto, etc. Com exceção de Déda, a cujo projeto me somei espontaneamente por questões ideológicas, jamais mantive com essas outras lideranças qualquer tipo de relação pessoal ou política. O julgamento de cada um compete ao povo, chamado às urnas a cada quatro anos. No frigir dos ovos, o que vai diferenciar um do outro é o comportamento ético, a capacidade em atender a contento o interesse público e a eficiência administrativa. Só e só!

Estou a cavalheiro para dizer que não me encontro filiado a nenhuma agremiação política e que minha pena não é de aluguel. Se elogio ou critico qualquer ato do atual governo, faço-o consoante minhas convicções, e não para preparar terreno ou dar discurso aos opositores do governador. Todavia, não posso fazer nada quanto ao fato de minhas convicções não corresponderem às de quem me dá a honra da leitura ou sequer suspeita da minha insignificante existência.

Perdem preciosos tempo e neurônios os que acham que meus artigos têm o condão de desestabilizar o governo. Suas análises, sobre serem equivocadas, conferem a mim atributos que de fato não possuo. Essas Fadas Sininho aboletadas na imprensa estão levando a teoria do caos ao paroxismo. Acreditam mesmo que o bater das asas de uma borboleta pode provocar furacões e tufões do outro lado do mundo (Hugo Chávez acredita que o que provocou o terremoto no Haiti foram testes militares da Marinha dos Estados Unidos). Só se for na Terra do Nunca, onde, trancafiados na mais estúpida infantilidade, enxergamos o mundo através de lentes cor de rosa. Haja pó de pirlimpimpim!

Paulo Márcio é delegado de Polícia Civil, graduado em Direito (UFS), especialista em Gestão Estratégica em Segurança Pública (UFS), especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal (Fa-Se) e colunista do Universo Político.com. Contato: paulomarcioramos@oi.com.br