quarta-feira, 10 de junho de 2009

PMs devolvem viaturas e lotam os quartéis do Estado.

“Se houver uma ocorrência no bairro Santos Dumont eu irei a pé atender. Se der tempo chegar lá, tudo bem”. Foi a informação passada por um oficial da Companhia de Radiopatrulha, cuja sede fica na avenida Melício Machado, no bairro Atalaia, distante 16 quilômetros do Santos Dumont. Os policiais militares de Sergipe decidiram, a partir de ontem, não sair dos quartéis, sob alegação de que as carteiras de habilitação daqueles cuja função é dirigir as viaturas estão vencidas. Apesar de permanecerem nas respectivas unidades, eles não consideram a atitude um aquartelamento e garantem que estão prontos para atender a população dentro das condições que o governo do Estado oferece.

Militares de diversas companhias na capital e interior resolveram não sair às ruas. Na sede do Batalhão de Choque, no bairro Ponto Novo, os policiais também permaneceram dentro dos quartéis. Durante todo o dia, o pátio das companhias de Radiopatrulha e Choque permaneceu cheio de viaturas, enquanto os policiais saíam para atender as ocorrências a pé, conforme disseram os próprios militares à equipe de reportagem do JORNA DA CIDADE. “Agora vamos cumprir a lei”, disse o oficial da RP. Ele, que pediu para não ser identificado, reforçou o que vem sendo dito há semanas pelo presidente da Associação Unidas, capitão Samuel Barreto: “Os militares dirigem com habilitação vencida”. Além disso, não possuem qualificação para pilotar veículos de emergência – no caso, as diversas viaturas da PM.

Segundo outro oficial, que também pediu o anonimato, a revolta na tropa se agravou porque ontem o governador Marcelo Déda se reuniu com o comandante da PM, coronel José Carlos Pedroso, e o secretário de Segurança Pública, João Eloy de Menezes, e garantiu que trataria apenas de assuntos administrativos e que a questão salarial já estava definida desde o dia em que foi anunciado o aumento linear de 5,53%. O anúncio foi feito pelo governador no dia 3 de junho, durante entrevista coletiva, e levou em conta a variação anual do Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), no período de maio de 2008 a abril de 2009.

Preocupados, os comandantes de diversas companhias se reuniram com o subcomandante da PM, coronel Eduardo Santiago, para expor a situação e ver que posição tomar. Depois da reunião, o subcomandante foi visitar pessoalmente alguns batalhões, para conversar com a tropa e verificar a situação que vem sendo denunciada pelas associações e que levou à não saída das viaturas das companhias no dia de ontem. Segundo o assessor de Comunicação da PM, coronel Carlos Ornelas, o coronel Santiago queria saber se procediam os motivos denunciados para então procurar sanar os problemas.

“Há a reclamação da falta de curso de direção de veículo de emergência. Estamos verificando isso, para iniciar de imediato, para que a população não seja prejudicada”, disse o coronel Ornelas. Na tarde de ontem, o subcomandante da PM visitou o 1°, 5° e 8° Batalhões. A informação é que foi constatada uma parcela significativa de militares com carteira de habilitação vencida.

“Mas nada que possa comprometer o policiamento”, garantiu o assessor de Comunicação da PM.
Devagar

Desde janeiro que os policiais militares, liderados por suas diversas associações, vêm tentando negociar salários com o governo do Estado, mas sem sucesso. Na segunda-feira, no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, eles decidiram que não iriam mais dirigir as viaturas, desde que os motoristas estivessem com a carteira de habilitação vencida. Também decidiram que só iriam trafegar pelas ruas de Aracaju a 60 quilômetros por hora, que é o limite máximo de velocidade estabelecido pela Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT). Durante a assembleia dos militares, o capitão Samuel Barreto exortou os colegas a só atenderem as ocorrências da comunidade respeitando o limite de velocidade, mas que poderiam ir mais rápido caso o fato envolvesse um colega ou familiar. Ontem, radicalizaram: sequer saíram dos quartéis.
Eloy manda apurar responsabilidades
O secretário de Segurança Pública, João Eloy de Menezes, determinou ao comandante da Polícia Militar, coronel José Carlos Pedroso, a apuração das responsabilidades diante da paralisação dos militares que ocorreu ontem pela manhã. Ele assegurou que se for necessário instaure um inquérito policial militar (IPM) para apurar a insubordinação. João Eloy está sendo informando sobre os problemas e disse que os repassaria para o governador Marcelo Déda, durante reunião que teve ontem à tarde para tratar de assuntos “administrativos” das duas corporações.
“Se esse comportamento se concretizar e for uma forma de corpo mole, será instaurado IPM para apurar o fato”, reforçou João Eloy, ao alegar que essa postura é inadmissível. “Não digo que as reivindicações deles [dos militares] são ilegais, mas eles têm que cumprir com as obrigações de servidor público”, assegurou.
Para João Eloy, todo policial tem obrigação de prender em flagrante qualquer pessoa que esteja cometendo um crime e se não o fizer vai responder por isso. Quanto à denúncia feita pelo presidente da Associação Unidas, capitão Samuel Barreto, de que militares estão dirigindo viaturas com habilitação vencida, João Eloy disse que se isso existe o comandante da PM deve substituí-los. Ele disse que vai conversar com o coronel Pedroso para averiguar a situação e, se realmente for confirmada a denúncia, será providenciado para que o militar tenha renovada a carteira de habilitação. “O que não pode é parar o serviço”, disse.
Jornaldacidade